terça-feira, 30 de novembro de 2010

Filosofia para Crianças – Educação para o pensar


A proposta do Programa Filosofia para crianças foi formulada pelo professor de Filosofia norteamericano, Matthew Lipman, fundador e professor Senior do Institute for the Advancement of Philosophy for Children (IAPC), de Montclair University, New Jersey – EUA. Lipman elaborou um programa específico de Filosofia para crianças, com o intuito de iniciá-las no pensar filosófico, no início dos anos 60. Contudo, somente a partir dos anos 90 foi que esta proposta começou a experimentar uma repercussão na educação, com o objetivo de contribuir para que a sala de aula pudesse ser um ambiente suficientemente significativo para o desenvolvimento cognitivo dos estudantes.

Lipman, ao desenvolver seu Programa de Filosofia para Crianças, almejava o desenvolvimento de habilidades cognitivas, mediadas por temas filosóficos em uma linguagem acessível para as crianças e via nas histórias, o ponto de partida para iniciar a criança no mundo da filosofia.

A ele a palavra:

As histórias para as crianças são mercadorias preciosas – bens espirituais. Constituem a espécie de bens de que não despojamos ninguém ao torná-los nossos. As crianças adoram os personagens de ficção das histórias que lêem: apropriam-se deles como amigos – como companheiros semi-imaginários.

Dando às crianças histórias de que se apropriar e significados a compartilhar, proporcionamos-lhes outros mundos em que viver – outros reinos em que habitar (LIPMAN, 1997, p. 62).

Um dos maiores problemas enfrentados pelos professores em sala de aula é a dificuldade que muitos estudantes têm para assimilar o conteúdo de modo significativo. O constante convívio dentro do contexto escolar oportunizou observar que muitos estudantes apresentam dificuldades em interagir de forma espontânea com os professores, isto é, não encontram um ambiente que favoreça a liberdade para perguntar, questionar, o que acaba por tornar difícil a apreensão do conteúdo. Esse modelo em que eu te ensino e você aprende, não contribui em nada para que os estudantes possam se apropriar de forma autêntica daquilo que lhes é apresentado em termos cognitivos, pois há uma distância imposta neste formato de educação, que tira do estudante o desejo pelo saber, pelo fazer. Não há motivação, pois o professor acaba por ficar muito distante e não se estabelece uma interação suficientemente significativa entre professor e estudante. Esse distanciamento acaba por impedir a fluidez da aprendizagem.

A interação que faço menção é aquela que tem como alicerce o diálogo, que permite uma conexão não só do estudante com o professor, mas também entre eles. Isso propicia um ambiente em que a liberdade é cultivada e, por conseguinte, estimula a confiança, a criatividade e a reflexão tão necessárias ao processo de aprendizagem.

Por outro lado, temos a escola que é uma instituição reconhecida pela sociedade, inserida em contextos sociais e ambientais diversificados e tendo como uma de suas funções a difusão de conhecimentos. O conhecimento científico, assim como o conhecimento popular, é socialmente construído, isto é, ele se constitui por meio de trocas de informações entre as instituições científicas, que são também entidades sociais e culturais e também por que a seleção cultural escolar não se exerce unicamente em relação a uma herança do passado, mas incide sobre o presente, sobre aquilo que constitui num momento de uma sociedade, isto é, o conjunto de saberes das representações das maneiras de viver que têm curso no interior da sociedade e são, por isso, susceptíveis de aprendizagem.

Diante deste cenário, e tendo em vista os pressupostos da proposta do Programa Educacional Meio Ambiente em Movimento (PROEMAM), formulado pelos Polícias Militares da 13a Companhia da Polícia Militar Independente de Meio Ambiente e Trânsito de Barbacena, MG, que têm como mote os princípios da vulnerabilidade socioambiental, da exequibilidade e fragmentação de espaço, aliado à escolha do público alvo, estudantes do 5o ano das Séries Iniciais do Ensino Fundamental de duas escolas públicas municipais da cidade de Barbacena, uma da zona rural e outra da zona urbana, respeitando o princípio da fragmentação de espaço e que se encaixam na conceituação de vulnerabilidade social e ambiental, que é a “situação em que as habilidades e recursos a que um grupo social está submetido são inadequados e insuficientes para lidar com as oportunidades ofertadas pela sociedade”, adotamos a proposta da Filosofia para o pensar de Lipmam. Esta proposta encaixa-se perfeitamente com a premissa deste programa, que é proporcionar uma visão mais crítica, reflexiva e investigativa acerca dos problemas ambientais, com o intuito de buscar solução para estes problemas. Pois há na proposta da Filosofia para Crianças – Educação para o pensar, um compromisso de buscar, clarificar os elementos que possam auxiliar todos os membros do grupo a irem construindo suas próprias “clarezas” a respeito do tema trabalhado.

Afinal, o grande objetivo da proposta de Lipman é ajudar as crianças e os jovens a se tornarem pessoas que pensam por si mesmas e tendo boas razões para pensarem assim.

4 comentários:

  1. Parabéns Mara,

    Belo texto que traduz de forma clara o método aplicado no Proemam. Crianças estimuladas, ativas, hábeis e competentes para o exercício dos princípios ambientalmente corretos e, especialmente, multiplicadoras do seu saber.
    Conhecer e reconhecer... e partir para a ação!

    O desafio está lançado.

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  2. A esperanças e que estas crianças se tornem aldultos, mais éticos. Que possam desenvolver atitudes mais amorasas, consigo, seus semlhantes e naturza. Tantando nós estamos. O desafio está lançado...

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  3. “O sujeito pensante
    não pode pensar sozinho;
    não pode pensar sem a co-participação
    de outros sujeitos
    no ato de pensar sobre o objeto.
    Não há um ‘penso’,
    mas um ‘pensamos’.
    É o ‘pensamos’ que estabelece o ‘penso’
    e não o contrário.
    Esta co-participação dos sujeitos
    no ato de pensar se dá na comunicação.
    O objeto, por isso mesmo,
    não é a incidência terminativa
    do pensamento de um sujeito,
    mas o mediador da comunicação.”
    Paulo Freire

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  4. Acredito que a lição de Paulo Freire joga luz sobre os diversas fases pelas quais passou todo o processo de construção do PROEMAM.
    Desde a mobilização para a elaboração do projeto até a sua execução não foi apenas a "verdade absoluta" que reinou e sim a síntese das discussões entorno do "objeto" meio ambiente, ramificado, discutido e tratado durante todo o momento.
    Todos nós aprendemos um pouco mais do que sabíamos... e continuamos aprendendo.

    Muito feliz e oportuna a colaboração da Ten Cristina!

    Abraços,

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